terça-feira, 23 de setembro de 2014

de repente chegamos aqui

Imagem: Felipe Morozine - fotografandozine.blogspot.com


 é verdade, meu anjo,
os sons que surgem da janela são mesmo esquisitos
mas é só vento, eu te repito
e o vento é bom, porque refresca
e traz as sementes para as flores e para a terra.

o vento arrepia meus ombros
deixa meu cabelo ainda mais bagunçado
faz um barulho um pouco maior do que nos acostumamos,
agora a gente mora no segundo andar,
e é só vento.
ar que vem e que vai, e que traz sons parecidos
mas nunca iguais.

o barulho agora é diferente,
vem do teto,
você acorda assustado,
enquanto eu te explico que arrastaram a cadeira lá em cima
e não é nada, te repito
enquanto que eu também me traio
porque meu coração se sobressalta

fico querendo que você se acostume
com o fato de que mudanças fazem parte da gente,
são mais do que um estado de coisas
tento te proteger de sentir o caos
mas ele está ao redor, e está em mim agora.
você tem medo e eu também
você não entende, e eu sim

mas é simples e errado demais dizer que as mudanças são resultados de nossas escolhas
porque nossas escolhas não surgem do nada,
a gente olha, vive e capta o que há ao redor
e coisas ao redor despertam coisas aqui dentro
como o barulho do vento que nos traz insônia,
ou as contas no fim do mês,
ou o rasgão no sofá
ou adiamentos das coisas urgentes
ou o cansaço porque foi tanta mudança
e tamanho o embaraço de ser tudo ao mesmo tempo
como sempre
que é até confuso explicar para você (ou para mim)
que nessa explosão de coisas novas que não se findam
alguma coisa é familiar:
antes estar assim, um tanto só, era só sensação,
e agora é fato.
e antes da sensação ser só sensação
fatos a levaram a isso.

dizer que coisas surgem de dentro para a fora é errado e simples demais.

sei que o vento faz som esquisito
e que dá medo tudo isso
e que não sou o tipo de pessoa que oferece garantias
mas estou aqui por acreditar em coisas melhores
e estou aqui por acreditar que coisas melhores só acontecem quando a gente se mexe.

é mesmo duro lidar com mudanças não escolhidas - e não compreendidas.

mas lembra que o vento barulhento e bagunceiro
que nos invade a janela
é também o que nos refresca enquanto espalha sementes.


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