segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Meus cinco centavos (março de 2008)
Todos dias, seja qual for a hora, entro em um ônibus como uma minhoquinha. Tento me espremer como uma sardinha. Não adianta fazer pose, estar toda arrumada e penteada, querer chegar intacta ao meu destino e com um sorriso no rosto... Você se descabela mesmo, leva cotoveladas, pisadas no pé, e ainda por cima aquelas freadas bruscas te tiram o equilíbrio. Na hora de sair, então, é o maior descontrole. Você tenta se esquivar de quem está na sua frente (e não vai descer) e Deus queira que a porta do ônibus ainda esteja aberta quando você chegar na porta. Se não, você desce no ponto seguinte, ou alguém vê seu desespero e dá um grito: “Vaaaai desceeeeerrrrrrr... ô motor”. Espetacular! Ahaha. E aí tem tanta gente espremida em um pequeno espaço, que quando você desce, parece que foi de um cuspe, tamanha a pressão. Não é algo humano, sequer animal. Mas tudo bem, isso é coisa da vida.
Relaxo.
Até duas semanas atrás, a passagem de ônibus inteira custava R$1,70. Aumentou, caladinha, para R$1,80. Aumentou o espaço do veículo? A comodidade se tornou humana? Tem mais cadeiras? Climatização? Você tem direito a pegar outro ônibus da mesma linha? Para todas as respostas, meu caro passageiro, NÃO, NÃO e NÃO. O cartel decide aumentar a passagem e dane-se o resto. É a única opção aos que, como eu, não possuem um veículo próprio. Então é isso aí, deitar e rolar sobre as classes C, D... Mas tudo bem, isso é coisa da vida.
Respiro fundo.
Os estudantes, geralmente, são os que mais reivindicam pela estagnação no preço da passagem, mesmo porque deveria haver reais JUSTIFICATIVAS para que a passagem aumentasse. Neste ano, foram poucos os que “invadiram” a avenida Fernandes Lima, reivindicando o não aumento no valor. Como sempre, e infelizmente, não surtiu efeito.
No dia seguinte, na banca de revistas, um cidadão que trabalha todos os dias e não possui carro, segurava um jornal que estampava a foto dos manifestantes, com a seguinte manchete: “estudantes brincam de atrapalhar o trânsito”.
Ainda passava pelo local quando ouvi o leitor, também passageiro de ônibus, comentando: “esses bagunceiros”.
Mas tudo bem, isso é coisa da vida.
Conto até 10...
Nesta manhã, eu não estava com a carteirinha de estudante, que me permite pagar meia passagem, de modo que tive que pagar a passagem inteira, que custa R$ 1,80. Como eu não possuía R$1,80, entreguei ao cobrador R$ 2, 00 e fiquei a aguardar o troco. Ele me devolveu duas moedinhas cuidadosamente viradas – cuidadosamente demais.
Ao pegar as duas moedinhas e olhá-las, me surpreendi ao ver que não tinha vinte centavos, mas quinze. Voltei, toquei no ombro do cobrador e, na maior educação que a minha caríssima mãe me deu, disse: “moço, o senhor me deu quinze centavos, e é vinte”.
Não é surpreendente, no entanto, que o cobrador tenha tentado esboçar um olhar de desprezo. Mas olhei para ele implacável, com um olhar que praticamente o ordenava a parar por ali com aquela “expressão esnobe” e ele se rendeu a me dar o troco certo.
Não, assim não dá.
Isso não é coisa da vida. Aliás. Nada disso é...
Ser tratado de maneira desumana dentro de um lugar pago – não é coisa da vida
Esse depósito de sardinha aumentar o preço, sem justificar com qualquer melhoria no local e continuar te tratando como minhoca – não é coisa da vida.
Algumas sardinhas – a sua maneira – tentarem reivindicar e serem repreendidas por outras sardinhas mais desavisadas – não é coisa da vida
Como se não bastasse, ainda tentarem ‘arredondar’ sei lá o quê, dizer que não tem troco e não te dar o SEU DINHEIRO.. não dá MESMO!
Enquanto não houver uma lei nos Direitos do Consumidor – ou mesmo nos Direitos Humanos - que possa empacar esse tipo de absurdo dentro dos ônibus que sou OBRIGADA a pegar, eu sempre farei o máximo que puder,
nem que seja exigir meus cinco centavos..
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