“E aí, quando cheguei mesmo ao fundo do Poço, ele chegou determinado a me dizer o que eu não queria ouvir, não naquele momento... e me disse que eu não amava a mim mesma como eu pensei que me amava, mas que tinha um vício infantil de imaginar que estava dentro de tudo o que estava ao meu redor: minhas dores, meu amor, meus amigos, minha família, meu cachorro, meus livros e músicas. Ele disse que eu não deveria nunca me conservar parada dentro de um círculo, seja ele qual for, porque isso, na realidade, era egoísmo.
Eu não entendi na hora, sabe. Achei que ele queria dizer para eu abandonar tudo e achei a idéia, no mínimo, absurda. Quis até não dar ouvidos, mas algo cá dentro dizia que não era isso o que ele tentava me falar. Caí na real (embora não tenha sido, definitivamente, uma queda) e tudo ficou tão claro: a despeito de toda minha incompreensão com o que me cercava, eu deveria entender que nada disso gira em torno de mim, e que sequer deveria resumir a “giro” todos esses processos; percebi que o mundo não dá voltas, que ele não se resume a um planeta, e que por mais insegura que fosse, era exatamente nesta incompreensão que deveria apoiar meu ponto de partida.
Aquilo era demais para mim. Pura expansão na surdina..
Mas algumas pequenas coisas que eu fazia mostravam que eu estava, finalmente, captando a mensagem. Abri meus olhos e olhei o outro. Tenho certeza de que, por alguns momentos, entrei no olho do outro e aquela acessibilidade toda só poderia significar uma coisa: realmente estávamos todos ligados e o mundo ligado em nós. E mesmo que pudéssemos encaixar umas coisas nas outras, tudo era esticável demais para se limitar ao nosso vocabulário sempre limitado.
Então voltei para cá e vi tudo novamente: minhas dores, meu amor, meus amigos, minha família, meus livros e músicas. Vi com a alegria de criança que vai ao parque pela primeira vez. E foi como se estivesse de volta e, ao mesmo tempo, não estivesse. Porque embora tudo estivesse aparentemente estático, eu tinha consciência de que nada daquilo me pertencia e as múltiplas possibilidades também eram igualmente palpáveis e quase ilusórias. Descobri que descobrir não é definir ou descrever, mas sentir, mergulhar fundo, olhar ao redor e superar a necessidade de respostas, de entendimento, com a simples força impulsionadora da felicidade de todos...”
- Oiiii.. tô falando com você, mulher! Qual sua religião?
- Ah.. me desculpa...voei aqui! Minha religião é me manter ligada naquele cara que disse para amar aos outros como a mim mesma...
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