Ainda me surpreendo com um bocado de coisas. Lembro quando realmente pensei que quando nossos sentimentos e nossa disposição eram entregues, também nossa vida estava completamente jogada ao alto, aos braços de um grande filme qualquer. Eu sempre fazia isso. Sempre faço. Claro que vejo todo o jogo, todo o sistema, todo o esquema. Nego, nego, nego até a morte, mas sei que quando as coisas acontecem, elas pedem uma licença bem sutil, e nos negamos a ouvi-la para sermos “pegos de surpresa”. Eu nego, nego, nego a ouvir esses sinais sutis demais. Às vezes não são bom agouro. Às vezes são interpretações errôneas.
Eu sei que podem ser interpretações errôneas porque quando o professor Renalvo pediu para que escrevêssemos uma redação sobre o poema “No meio do caminho tinha uma pedra”, de Carlos Drummond de Andrade, todas as pessoas da minha turma escreveram algo sobre pessoas que encontraram problemas pelo caminho e, daí, a velha metáfora de que “apesar das pedras em nosso caminho”... Eu, com minhas interpretações errôneas e com minha disponibilidade em captar sinais sutis, surgi com a idéia de que o poema significava outra coisa: em meio a tanta coisa enorme, a tantas coisas que nos tiravam a atenção, ele (o poeta) reparou em uma pedra, em uma simples pedra no meio do caminho. Na conclusão da minha redação de 3º ano, decidi que nós corremos demais e esquecemos de olhar para as pequenas coisas. "Drummond olhou e se tornou eternizado", concluí.
Deixe que meus olhos vejam as coisas “pequenas” e finja passar batido. Logo logo, um papo aqui, conversa acolá, elas aparecem de mansinho, mostrando que tudo estava bem guardado e que, mesmo que eu não perceba nessa minha cabeça oca, de vento e brisa, meus poros absorvem. Como absorvem!
Enquanto isso vou puxando a velha e grande enferrujada alavanca de coisas grandes, palpáveis, expressas. Nossas gargalhadas soltas, as lágrimas incontidas, os fatos cortantes, a dança, a bebida, e todas essas coisas das quais entregamos quase tudo. Quase tudo em um instante, em uma pessoa, em uma tentativa, quase tudo de nós para criarmos grandes nós. Mas eu vejo na ponta dos meus dedos um tecido bem fino e dourado que me desprende devagarzinho, que me leva a nenhum caminho, e não deixa meu “abstrato” sozinho.
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