Acobertada por um ponto de vista feminista e ultraliberal, entrei naquela onda de que 'a mulher é quem deve decidir', 'ela deve ter o controle sobre seu próprio corpo' e etc... Para completar, ainda imaginava todo um esquema: a mulher que queria ser submetida a um aborto deveria passar uma semana inteira de conscientização com psiquiatras, assistentes sociais (além de ver aquelas imagens terríveis), o que poderia desmotivar cerca de 90% das mulheres. (Pois é, ainda colocava números para dar mais credibilidade aos meus discursos.)
De acordo COMIGO (rs), o aborto clandestino, além de provocar a morte da criança, por ser clandestino e sem qualquer cuidado de um profissional, terminaria por ocasionar o falecimento da mãe também. E pensava: "Por mais inconseqüente que seja, ela não deve pagar com a própria vida por mero 'preconceito' da sociedade". Por fim, ainda afirmava, orgulhosamente, aos quatro ventos: "Sou a favor da legalização do aborto, mas terminantemente contra o aborto. Só acho que a criminalização dele causa mais mortes e não resolve o problema, porque se alguém quiser fazê-lo, o fará da mesma maneira, mas sofrerá riscos de vida".
Quase convincente, hein?
Acontece que mudei de opinião, de novo.
A questão da gravidez indesejada já não pode ser falta de informação (sejamos honestos, não há cristão ou não-cristão que não saiba o que é método contraceptivo, de sua gratuidade, margens de falha, ou da ilusão da tabelinha). Se a concepção tiver sido forçada, em casos de estupro, a lei já não permite o aborto? Quais outros casos sobram? Falha do método (há a pílula do dia seguinte), DESUSO (pura irresponsabilidade, mas também há a pílula para isto). Hoje, creio que criminalizar o aborto não é a solução, mas legalizá-lo aumentaria ainda mais o problema.
O problema em legalizar o aborto seria o crescimento da banalização. Imaginem: o aborto será como um outro método contraceptivo. "Meu amor, para quê camisinha? Qualquer coisa a gente vai ali, na clínica da esquina, e faz um abortinho básico"... Tô mentindo que vai ser assim? Vai ser fácil demais e ainda maior será a inconseqüência.
Eles falam que realmente haveria todo um acompanhamento para a futura-ex-mãe saber o que está fazendo, mas olhemos para a realidade: as maternidades públicas mal suportam atender curetagens, ou mesmo parto. Imaginem toda uma estrutura com tratamentos psiquiátricos e tudo o mais aqui, em Maceió... mesmo no Brasil? Ah, caríssimos... Coloquemos os pés no chão!
A questão dos Direitos Humanos é outro desvio de atenção, outro discurso perfeitinho que tenta justificar a irresponsabilidade da criançada: falam que a mulher não deve ser FORÇADA a ter um filho, ou OBRIGADA a passar por um processo em seu próprio corpo por opiniões terceiras, o que fere a LIBERDADE. Acontece que o processo que a tal mulher está sendo OBRIGADA a passar foi causado, unicamente, por ela e seu companheiro.
Então não vamos falar bonito sobre valores e direitos como a LIBERDADE da mulher, quando toda essa LIBERDADE atinge algo ainda maior: a VIDA de alguém que não pode se defender sozinho (e, por acaso, a liberdade desse alguém também). (E olha que nem falei da crueldade e da desumanidade, da maldade, da ...)
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